Ideias / Enredos - Livros e Autores
“Não – Lugares”
Autor:
Marc Augé
Neste
livro que relata passagens por lugares, Marc Augé é um analítico social e como
humanista por excelência, antropólogo e africanista, analisa e define a
interação do homem e o espaço onde está inserido em termos das relações do
espaço temporal, mas também fronteiras de subjetividade e sociabilidades.
Segundo
Marc Augé; O espaço físico, este que a cada dia vem perdendo importância de
agregador social, já que com a popularização da Internet, a atual proliferação
e a grande segregação das cidades em guetos, condomínios fechados, e shoppings,
mostra-nos que o espaço físico anda separando.
As
redes digitais articulam as conexões globais, independentemente do local geográfico
de onde são emitidos os dados.
A
virtualização do mundo, serviços, empregos e das relações sociais transforma os
nossos lugares de vivência como bairros, centros das cidades, e principalmente
a relação que temos com esses espaços e o conceito de fluxos, no mesmo sentido.
Na sociedade em rede é o espaço, não mais físico, mas de fluxos de informação
que passa a organizar o tempo e esse novo espaço de fluxos reconfigura o espaço
de lugares que historicamente enraizou a experiência social.
Existem,
assim, três fatores neste espaço de fluxos: A espacialização, ênfase no tempo
das trocas, no fluxo de informação que transforma os lugares em espaços de
fluxo;
A
perda do centro nos espaços de fluxo, que são espaços equivalentes, acarretam a
desvalorização de lugares centrais como as praças, ruas e monumentos, perda do
uso das cidades por parte dos cidadãos. O trânsito pelas cidades, ruas e praças
configuram-se na lógica do trabalho e do consumo, fazendo com que os cidadãos
fujam do caos urbano, refugiando-se em espaços “paradisíacos” (shoppings,
condomínios fechados).
A
modernidade é caracterizada pela proliferação de não lugares, ou espaço de
fluxos.
A
crise do espaço substancial é apontada ao acesso aos espaços que se estão
a
transformar em espaços digitais (computador, televisão).
Espaço,
ciberespaço, lugar e não - lugar.
Passa
a existir uma nova representação, de uma visibilidade sem a face a face,
humanização na qual desaparece e se apaga a antiga confrontação de ruas e
avenidas. As novas tecnologias digitais têm papel fundamental nessa
transformação, pois a sua inserção cada vez mais no quotidiano muda a nossa
conceção de espaço, lugar e tempo.
Vivemos
uma nova conjuntura espaço temporal marcada pelas tecnologias digitais onde o
tempo real parece aniquilar, no sentido inverso à modernidade,
o
espaço de lugar, criando espaços de fluxos, redes planetárias impulsionando no
tempo real, em caminho para a desmaterialização dos espaços de lugar.
O
termo “espaço” é mais abstrato do que o de “lugar”.
Lugar
é uma referência a um acontecimento que já ocorreu, a um lugar
Histórico,
a um sítio, mito;
Espaço
esse que se aplica a uma extensão, a uma distância entre dois pontos, ou a uma
grandeza temporal. De acordo com Marc Auge, estamos na era das mudanças de
escala, de modificações físicas, concentrações urbanas, transferências
populacionais e a multiplicação de “Não - Lugares”, por oposição a noção
antropológica de lugar da cultura localizada no tempo e no espaço. Para Augé,
os lugares podem-se definir como identidades, ou seja, o lugar de nascimento
que constitui a identidade individual, espaço no qual o corpo é colocado. O
lugar é compartilhado com outros, histórico, o que conta a história de um povo.
O lugar é o espaço investido de sentido, personalizado.
Para
o autor, hoje, lugar é apenas uma ideia parcialmente materializada daqueles que
o habitam, da sua relação com o território, com seus próximos e com os outros.
O não - lugar é oposto ao lugar, é a sua ausência em si mesmo.
Ao não - lugar designamos duas realidades
complementares, porém distintas tais como espaços constituídos em relação a certos
fins (transporte, trânsito, comércio, lazer) e a relação que os indivíduos
mantêm com esses espaços. Ele é representado pelos espaços públicos. Se o lugar
é construído no espaço natural, e opera a apropriação do meio natural por meio
de símbolos, no ciberespaço é através dos símbolos que o “espaço” vai se
constituir.
Assim,
quando tomamos o ciberespaço como um local de fluxo de informação, que promove
a interação de tudo em tempo real, onde o local que se conecta pouco importa,
podemos considerá-lo como não - lugar. Porém, ao pensarmos que o ciberespaço
promove e pode até aumentar a interação social, já que o espaço físico não é
mais um complicador, e promove a capacidade de interferir na produção e
reprodução da cultura, podemos considerá-lo como lugar.
Marc
Augé em “Não – Lugares”: Introdução a uma Antropologia da Subremodernidade, coloca
a questão da antropologia da contemporaneidade.
Propõe
uma reflexão sobre a contemporaneidade caracterizada pelas figuras de excesso:
superabundância e individualização das referências, na transformação do espaço
e seu interlocutor o indivíduo como ser.
Numa
perspetiva diferente pós-moderna sobre a perda da inteligibilidade da história
em função da derrocada da ideia de progresso. O excesso de espaço, constitui-se
pelo encolhimento do mundo, que provoca alteração da escala em termos
planetários através da concentração urbana, migrações populacionais e produção
de não - lugares – aeroportos, salas de espera, centros comerciais, estações de
metro, campos de refugiados, supermercados, por onde circulam pessoas e bens.
Os
não - lugares são a medida de uma época que se caracteriza pelo excesso,
superabundância espacial e individualização das referências. O autor questiona
a validade da ideia de não - lugares. Este parece ser o caso das apropriações
feitas das formulações de Marc Augé, Antropólogo francês que toma como mote
para suas elaborações as preocupações com a questão daquilo que chama de “não -
lugares”, espaços em que vê em oposição à noção de lugar onde a cultura
localizada no tempo e no espaço e como produto das transformações económicas,
sociais e culturais invoca uma crítica às novas cidades, originárias de projetos
urbanísticos por não oferecerem um equivalente aos lugares de vida produzidos
por uma história mais antiga é evidente em toda sua argumentação que o autor
tem um ideal de cidade.
Por: Paulo Duarte
Biografia
Marc
Augé - Não lugares
90
graus Editora
Kanimambo
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